sábado, 15 de janeiro de 2011

Capitulo 5 – Parte 9

- Nessa, querida, você deve ser paciente.

Como a filha, Gina foi atraída para a janela. Contemplou as luzes, a vida nas ruas. Seu anseio era ainda mais forte porque outrora fora livre.

- Amanhã ... amanhã será o dia mais emocionante de sua vida. - Ela abraçou e beijou a filha. - Confia em mim, não é?

- Claro que confio, mamãe.

- Vou fazer o que é melhor para você. Juro. - Gina apertou a menina. Abruptamente, soltou-a e riu. - Agora, fique apreciando a vista. Voltarei num instante.

-Aonde vai?

- Apenas até o quarto ao lado. - Ela sorriu, para tranqüilizar as duas. - Olhe pela janela, meu bem. Paris é linda a essa hora.

Gina fechou a porta entre a sala e o quarto. Era arriscado usar o telefone.

Passara dias tentando encontrar uma maneira melhor e mais segura. Embora precisasse de alívio, não tomava um tranqüilizante ou uma bebida desde que Abdu Greg anunciara a viagem. Tinha a mente lúcida, como não acontecia há anos. Tão lúcida que até doía. Mesmo assim, não fora capaz de imaginar outro meio que não o telefone. Sua única esperança era a de que Abdu Greg não esperasse a traição de uma mulher que tolerara seus abusos por tanto tempo.

Ela pegou o fone. Parecia estranho em sua mão, como uma coisa de outro século. Quase riu. Era uma mulher adulta, vivendo no século XXI, mas que há quase dez anos não tocava num telefone. Os dedos tremiam quando ligou. Foi atendida por uma voz falando num francês rápido.

- Você fala inglês?
                            
- Falo, madame. Em que posso ajudá-la?

Havia um Deus, pensou Gina, enquanto se sentava na beira da cama.

- Quero mandar um telegrama. Urgente. Para os Estados Unidos. Nova York.

Vanessa continuava na janela, as mãos comprimidas contra o vidro, como se pudesse dissolvê-lo pela força da vontade e se tornar parte do mundo que passava apressado lá fora. Havia alguma coisa errada com sua mãe. Seu medo mais profundo era o de que Gina estivesse doente, o que faria com que as duas fossem mandadas de volta para Jaquir. Sabia que, se partissem agora, nunca mais veria um lugar como Paris. Não veria mulheres com as pernas à mostra e os rostos pintados, nem os edifícios com centenas de luzes. 

Imaginou que o pai ficaria contente por ela ter visto, mas não tocado, ter sentido o cheiro, mas não saboreado. Seria outra maneira de puni-la, por ser mulher e de ter sangue misto.

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