A onda de pesar surpreendeu-a, enquanto beijava as cunhadas, a sogra, as primas pelo casamento. Todas as mulheres com quem convivera há quase dez anos.
- Vanessa deve sentar-se à janela - disse Jiddah a Gina, enquanto beijava e abraçava as duas. - Assim ela poderá ver Jaquir, enquanto o avião sobe.
Ela sorriu, satisfeita, porque o filho finalmente demonstrava algum interesse pela criança, que era, secretamente, sua predileta.
- Não coma muito creme francês, minha doce menina. - Vanessa sorriu e, erguendo-se na ponta dos pés, beijou Jiddah pela última vez.
- Comerei tanto que ficarei gorda. Não vai me reconhecerá quando eu voltar.- Jiddah riu. Afagou o rosto de Vanessa com a mão ornamentada com hena.
- Sempre a reconhecerei. Vá agora. E volte sã e salva. lnshallah.
Elas deixaram o harém, atravessaram o jardim e passaram por um portão no muro. O carro as esperava ali. Os nervos de Vanessa estavam tensos demais para perceber o silêncio da mãe. Falou sobre a viagem de avião, Paris, o que veriam, o que comprariam. Fez uma pergunta e depois continuou a falar, sem esperar pela resposta.
Ao chegarem ao aeroporto, Vanessa sentia-se mal de tanto excitamento, enquanto Gina passava mal de medo.
Até agora, a vinda dos executivos ocidentais apenas complicara o procedimento no aeroporto. Os aviões pousavam e partiam com mais freqüência e o transporte em terra limitava-se a alguns táxis cujos motoristas falavam em inglês. O pequeno terminal estava lotado, com as mulheres de um lado e os homens do outro. Americanos e europeus, confusos, esforçavam-se em proteger suas bagagens de carregadores com algum excesso de entusiasmo, enquanto esperavam desesperados por vôos de conexão, que às vezes demoravam dias. Esses pesares do capitalismo eram quase sempre obrigados a esperar, vítimas de um habito cultural que se alargara para um abismo ao longo dos séculos.
O ar vibrava com o barulho dos aviões, a cacofonia de vozes em línguas diferentes, que subiam e desciam, muitas vezes sem que o interlocutor entendesse. Vanessa avistou uma mulher sentada ao lado de uma pilha de bagagem, o rosto molhado de lágrimas, pálida de exaustão. Outra conduzia três crianças pequenas, que olhavam e apontavam para as mulheres árabes, em seus mantos pretos e véus.
- Há muitos estrangeiros aqui - murmurou Vanessa, enquanto eram conduzidas através da multidão pelos seguranças. - Por que eles vêm?
- Pelo dinheiro. - Gina olhou para a esquerda e a direita. Fazia tanto calor que tinha medo de desmaiar. Mas as mãos estavam geladas. - Vamos depressa.
Um comentário:
Ansiosa pelo próximo capitulo! =P
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