quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Capitulo 4 – Parte 10

Jiddah já notara e se preocupava com o fato de Vanessa não chamar mais Abdu Greg de pai.

- Não sei. Mas ele não fez isso em nove anos.

- Se ele se divorciasse, nós iríamos embora e eu sentiria muita saudade sua.

- Eu também teria saudade. - A criança já não era mais criança sob muitos aspectos, pensou Jiddah, largando a escova. - ­Não deve se preocupar com isso, Vanessa. Você está crescendo. Um dia, muito em breve, vai se casar. E eu terei bisnetos.

- E dará chocolates e contará histórias.

- Isso mesmo. Inshallah. - Ela comprimiu um beijo nos cabelos de Vanessa. Eram um pouco perfumados e escuros como a noite. - E amarei meus bisnetos como amo você.

Vanessa virou-se e passou os braços pelo pescoço de Jiddah. A fragrância de papoulas e condimentos em sua pele era tão confortadora quanto a pressão do corpo franzino.

- E eu sempre amarei você, vovó.

- Vanessa. Yellah.

Fahid puxava sua saia. Tinha a boca já suja de chocolate de uma visita anterior à avó. O throbe de seda que a mãe lhe fizera estava sujo.

- Venha comigo - disse ele, em árabe, dando outro puxão na saia.

- Ir para onde?

Porque já estava disposta a brincar com o irmão, Vanessa deixou o colo da avó e fez cócegas nas costelas do menino.

- Quero a piorra. - Ele gritou e se contorceu, antes de dar um beijo estalado em Vanessa. - Quero ver a piorra!

Ela embolsou outro punhado de chocolates, antes de deixar que Fahid a levasse embora. Riam enquanto disparavam pelos corredores, com Vanessa soltando gemidos e ofegos exagerados, enquanto Fahid a puxava pela mão. Ela tinha um quarto menor do que o da maioria das outras crianças, um dos insultos sutis do pai. A única janela dava para a beira do jardim. Ainda assim, era bonito, decorado no rosa e branco que ela mesma escolhera. Num canto havia prateleiras com brinquedos, muitos dos quais enviados da América por uma mulher chamada Celeste, a melhor amiga de sua mãe.

A piorra chegara anos antes. Era um brinquedo simples, mas muito colorido. Quando a alça era puxada, girava depressa, emitin­do um zumbido agradável e misturando o vermelho, o azul e o ver­de. Logo se tornara o brinquedo predileto de Fahid ... a tal ponto que recentemente Vanessa o tirara das prateleiras e o escondera.


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