sábado, 15 de janeiro de 2011

Capitulo 5 – Parte 8

O sol se punha quando deixaram o terminal. Vanessa esperou para ouvir o chamado para a oração, mas não houve nada. Também havia confusão ali, mas era mais rápida e um pouco mais organizada do que a confusão no aeroporto de Jaquir. As pessoas espremiam-se em táxis, homens e mulheres juntos, sem inibição, sem segredo. Gina teve de puxá-la para a limusine, enquanto ela se empenhava em descobrir mais coisas.

Ver Paris pela primeira vez ao pôr-do-sol... Sempre que Vanessa pensasse de novo na cidade, haveria de se lembrar da magia daquele primeiro momento, quando a luz pairava entre o dia e a noite. Os prédios antigos projetavam-se, fascinantes, de certa forma femininos, com um brilho rosa, dourado e branco suave ao sol poente. O carro enorme desceu rápido pelo bulevar, para o coração da cidade. Mas não foi a velocidade que deixou Vanessa atordoada e sem fôlego.

Ela imaginou que devia haver música. Num lugar assim, não podia deixar de haver música. Mas não se arriscou a pedir permissão para baixar a janela. Em vez disso, deixou que a música tocasse em sua cabeça, grandiosa, gloriosa, enquanto seguiam ao longo do Sena.

Havia casais andando por ali, de mãos dadas, os cabelos e as saias curtas das mulheres à brisa que recendia a água e flores. Que recendia a Paris. Ela viu cafés em que as pessoas se agrupavam em torno de mesinhas redondas, bebendo de copos que faiscavam vermelhos e dourados, como a luz do sol.

Se fosse informada que o avião os levara a outro planeta e a outra época, Vanessa teria acreditado. Quando o carro parou no hotel, Vanessa esperou que o pai saltasse, antes de perguntar à mãe:

- Podemos ver mais?

- Amanhã. - Gina apertou a mão da filha com tanta força que ela estremeceu. - Amanhã.

A menina teve de fazer um esforço para não tremer no ar fragrante do anoitecer. O hotel parecia um palácio, e ela estava cansa­da de palácios.

Com a comitiva de criadas, seguranças e secretários, eles ocuparam um andar inteiro no Crillon. Para desapontamento de Vanessa, ela e a mãe foram levadas para sua suíte e deixadas sozinhas.

- Podemos sair para jantar no lugar chamado Maxim's?

- Não esta noite, querida.

Gina espiou pelo olho mágico. Já havia um guarda postado no lado de fora da porta. Seria como um harém, mesmo em Paris. O rosto estava pálido quando se virou, mas sorriu e fez um esforço para manter a voz jovial.

- Teremos de pedir alguma coisa para comer aqui. O que você quiser.

- Estar aqui não é muito diferente de Jaquir.

Vanessa correu os olhos pela elegante suíte. Como os aposentos das mulheres, era luxuosa e isolada. Ao contrário do harém, no entanto, havia janelas abertas para a noite. Ela atravessou a sala e contemplou Paris. As luzes faiscavam, proporcionando à cidade uma aparência festiva, de conto de fadas. Estava em Paris, mas não tinha permissão para participar da vida na cidade. Era como se tivesse recebido a jóia mais gloriosa do mundo e só pudesse admi­rá-la por uns poucos momentos, antes de lhe ser arrebatada e trancada de novo no cofre. 

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desculpem pela demora.

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