quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Capitulo 4 – Parte 8

O medo tornou-se mais intenso. Ela olhou ao redor. Estavam a sós no jardim, mas as vozes se projetavam para longe, e sempre havia ouvidos para escutá-las.

- Não deve dizer isso, querida. Não deve nem pensar. Não pode compreender o que há entre mim e Abdu Greg, Nessa. Nem deve.

- Ele bate em você. - Vanessa recuou. Tinha os olhos secos agora, parecendo subitamente envelhecidos. - Por isso, eu o odeio. Ele olha para mim e não me vê. Por isso o odeio também.

- Não diga isso ...

Sem saber o que mais fazer, Gina tornou a puxar a filha para seus braços e balançou-a.

Vanessa não disse mais nada. Nunca tivera a intenção de deixar a mãe transtornada. Até as palavras saírem, nem mesmo tinha noção de que as guardava no coração. Agora que as expressara, tinha de aceitá-las. O ódio já se enraizara antes mesmo da noite em que vira o pai abusar da mãe. Crescera desde então, alimentado pela negligência e desinteresse de Abdu Greg, os insultos sutis que a distinguiam das outras crianças.

Ela odiava, mas o ódio a envergonhava. Uma criança devia reverenciar os pais. Por isso, ela não falou mais a respeito.

Ao longo das semanas subseqüentes, Vanessa passou mais tempo do que nunca com a mãe, passeando pelo jardim, ouvindo as histórias de outros mundos. Continuavam a parecer irreais para ela, mas as apreciava, da mesma maneira como gostava das histórias de piratas e dragões da avó.

Quando Meri deu à luz uma menina e foi punida com um divórcio sumário, Vanessa ficou contente.

- Estou feliz porque ela foi embora.

Vanessa jogava uma partida de três-marias com Duja Ashley. O brinquedo fora permitido no harém depois de muito debate e discussão.

- Para onde vão mandá-la?

Embora Duja Ashley fosse mais velha, era um fato aceito que Vanessa tinha mais habilidade para obter informações.

- Ela terá uma casa na cidade. Pequena.

Vanessa riu e pegou as três pedras com dedos ágeis. Poderia ter compaixão pelo destino de Meri, mas a ex-esposa do rei tudo fizera para ser detestada pelas outras mulheres.

- Fico contente porque ela não vai mais viver aqui. – Duja Ashley jogou os cabelos para trás, enquanto esperava sua vez. - Agora não teremos mais de ouvi-la se gabar da freqüência com que o rei a visitava e de quantas maneiras ele plantava sua semente. 


Capitulo 4 – Parte 7

- Você quer voltar.

Gina não percebeu o medo. Estava absorvida em seu pesar.

- É muito longe, Nessa. Longe demais. Quando casei com Abdu Greg, deixei tudo para trás. Mais do que imaginei na ocasião. Eu o amava e ele me queria. O dia do casamento foi o mais feliz da minha vida. Ele me deu O Sol e a Lua.

Ela levou a mão ao corpete, quase sentindo o peso e o poder do colar.

- Quando o usei, senti-me como uma rainha. Parecia que todos aqueles sonhos que eu tinha quando menina, em Nebraska, estavam se tornando realidade. Ele me deu parte de si mesmo na ocasião, parte de seu país. Significou tudo para mim quando ele prendeu o colar em meu pescoço.

- É o tesouro mais precioso de Jaquir. Mostrava que ele a prezava acima de qualquer outra coisa.

- Tem razão. Era o que realmente acontecia. Só que ele não me ama mais, Nessa.

Vanessa sabia disso, já sabia há algum tempo, mas não queria aceitar.

- Você é esposa dele.

Gina baixou os olhos para o anel de casamento, que outrora significava tanto.
Uma de três esposas.

- Ele só tomou as outras porque precisa de filhos. Um homem deve ter filhos.

Gina pegou o rosto da filha entre as mãos. Viu as lágrimas e a angustia. Talvez tivesse falado demais, mas já era tarde para retirar as palavras.

- Sei que ele a ignora, e que isso a deixa magoada. Tente compreender que o problema não é com você, mas comigo.

- Ele me odeia.

- Não.

Mas era verdade. Abdu Greg odiava a filha, pensou Gina, enquanto puxava Vanessa. E a assustava o ódio frio que percebia nos olhos do marido sempre que fitava a menina.

- Não, ele não a odeia - continuou Gina. - Tem um res­sentimento de mim, pelo que sou e pelo que não sou. E só percebe isso quando olha para você. Não vê a parte de si mesmo, talvez a melhor parte de si mesmo, que existe em você.

-Eu o odeio. 

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Obrigada pelos comentários 

Sophie: Não, ela não tem. UASUHUHSAHUS, vc não gostava do seu nome? eu acho ele bonito. Por nada, pode insultar o quanto quiser, e acredito q daqui pra frente, vc vai ter beeem mais motivos pra isso. Cooncerteza, meeeu bebe ta crescendo, awwwwwn tão liiindo *-*.

Tiz: HUASUHUHASUHS, ué nao tem presente melhor pra ele, falando sobre a namorada UHAUSHUHAS. Legal, vc deve ter uma visão rara HUHSUAHUAS, eu tbm ás vezes consigo ver, pra falar a  verdade, tbm sou assim, quando estou lendo uma história, é como se eu estivesse participando, é foda UHASUHUHAS.

Gui: HUASUHUSAUHAS, que bom q sentes minha falta ;DD,mas é impossível nao sentir, vc não é nada sem mim UHAUHUHAS. Ok, já te add lá, ve se aceita.

beeeeeeijos seres q eu amooooooo.

domingo, 17 de outubro de 2010

Capitulo 4 – Parte 6

- Faz frio em Londres - acrescentou Vanessa. - E chove muito. Em Jaquir, o sol sempre brilha.

- Londres é uma cidade linda. - Uma das maiores habilidades de Gina sempre fora a facilidade que tinha de se situar num lugar, real ou imaginário, e vê-lo com absoluta nitidez. - Pensei que era o lugar mais lindo que já conhecera. Filmávamos lá, e as pessoas ficavam atrás das barreiras para assistir. Gritavam meu nome. Às vezes eu dava autógrafos e também posava para fotos. Foi nessa ocasião que conheci seu pai. Ele era muito bonito. E elegante.

- Elegante?

Um sorriso sonhador no rosto, Gina fechou os olhos.

- Não importa. Fiquei muito nervosa, porque ele era um rei. Havia um protocolo para lembrar e fotógrafos por toda parte. Mas depois que conversamos, nada mais tinha importância. Ele me levou para jantar e depois para dançar.

- Dançou para ele?

- Com ele. - Gina pôs Vanessa no banco, a seu lado. Ali perto, uma abelha zumbia, absorvendo néctar. O som era agradável em seus ouvidos, tornado musical pela droga. - Na Europa e na América, homens e mulheres dançam juntos.

Os olhos de Vanessa contraíram-se. - Isso é permitido?

- É sim. Uma mulher pode dançar com um homem, conversar, passear, ir ao teatro. Muitas coisas são permitidas. As pessoas saem juntas em dates. 

- Saem? – Vanessa ainda tinha dificuldades com o inglês. - Dates são para comer!

Gina riu de novo. A filha ainda não distinguia o date que era um encontro romântico do date que significava tâmara. Sentia-se sonolenta ao sol. Podia lembrar como era dançar nos braços de Abdu Greg. Como seu rosto era forte. E como as mãos eram gentis.

- O date neste caso não significa tâmara. Acontece quando um homem convida uma mulher para sair. Vai buscá-la em casa. Às vezes, leva flores. - Rosas, lembrou Gina, sonhadora. Abdu Greg lhe enviara dúzias e mais dúzias de rosas brancas. - Podem jantar fora, ir ao teatro e cear depois. Ou podem ir dançar em alguma casa noturna superlotada.

- Dançou com meu pai porque eram casados?

- Não. Dançamos, nos apaixonamos e depois casamos. É diferente, Vanessa, muito difícil de explicar. A maior parte do mundo não é como Jaquir.
O medo insidioso, com que Vanessa convivia desde que testemunhara o estupro da mãe, aflorou-lhe agora.

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Bom esse capítulo é grande, vai ter varias partes, mas vou fazer de tudo pra ele acabar bem rápido.
beeeeijos

Capitulo 4 – Parte 5

- Gostei muito quando ela falou sobre você. - Vanessa também lembrava que a mãe chorara muito depois que a repórter fora embora.

- Ela voltará?

- Talvez algum dia.

Mas Gina sabia que as pessoas esqueciam. Havia novos rostos, novos nomes em Hollywood. Até mesmo ela conhecia uns poucos, pois Abdu Greg permitia que alguns cartas lhe fossem entregues. Faye Dunaway, Jane Fonda, Ann-Margret. Atrizes jovens e lindas, deixando sua marca, ocupando o lugar que outrora lhe pertencera.

Ela tocou no próprio rosto, sabendo que agora havia canto dos olhos. Um rosto que outrora aparecera na capa de todas as revistas. As mulheres pintavam os cabelos para ficarem iguais aos seus. Fora comparada a Monroe, Gardner, Loren. Depois, não fora mais comparada a ninguém; iniciara um padrão.

- Houve uma ocasião em que quase ganhei um Oscar. É o maior prêmio para uma atriz. Não ganhei, mas mesmo assim houve uma festa maravilhosa. Todos riam, conversavam, faziam planos. Era muito diferente de Nebraska, o lugar em que eu morava na idade que você tem agora, querida.

- Havia neve lá?

- Havia. - Gina sorriu e estendeu os braços. - E muita neve. Eu morava com meus avós, porque meu pai e minha mãe haviam morrido. Era muito feliz, mas nem sempre soube disso. Queria ser atriz, usar roupas lindas e ter muitas pessoas me amando. 

- E se tornou uma estrela do cinema. 

- Isso mesmo. - Gina roçou o rosto nos cabelos - Parece que foi há centenas de anos. Não nevava na Califórnia mas eu tinha o mar. Para mim era como um conto de fadas. E eu era a princesa sobre quem lera em todos os livros. Era muito árduo, mas eu adorava participar. Tinha uma casa para mim.

- Devia se sentir solitária.

- Não, não me sentia. Tinha amigos, pessoas com conversar. E viajei para lugares que nunca imaginei que conheceria ... Paris, Nova York, Londres ... Conheci seu pai em Londres.

 - Onde fica Londres?

- Inglaterra, Europa. Está esquecendo as lições.

- Não gosto de lições. Gosto de histórias. – Mas Vanessa pensou um pouco, porque sabia que as lições e para a mãe, outro segredo entre as duas. - Uma rainha mora em Londres, com um marido que é apenas um príncipe.

Vanessa esperou, certa de que a mãe a corrigiria desta vez. Era uma idéia absurda: uma mulher reinando sobre um país. Mas Gina limitou-se a sorrir e acenar com a cabeça em confirmação. 

Capitulo 4 – Parte 4

Gina ainda era sua esposa, a primeira das quatro que as leis lhe permitiam ter. Mas em Jaquir o casamento se tornara sua prisão. Ela girou o anel de diamante no dedo, enquanto observava a água murmurar no chafariz. Vanessa começou a jogar pedrinhas na água, para fazer a carpa brilhante nadar.

- Não gosto de Meri - disse Vanessa. Num mundo tão res­trito como o de um harém havia pouco para se falar, exceto as ou­tras mulheres e crianças. - Ela estufa aquela barriga e sorri assim.
Vanessa fez uma careta e Gina não pôde deixar de soltar uma risada.

- Ah, como você é boa para mim ... - Gina beijou o topo da cabeça da filha. - Minha pequena atriz!

Ela tinha os olhos do pai, pensou Gina, enquanto afastava os cabelos do rosto da menina. Ajudavam-na a lembrar-se do tempo em que Abdu Greg a contemplava com amor e afeto.

- Na América, as pessoas entrariam em filas quilométricas só para vê-la.
Satisfeita com a idéia, Vanessa sorriu.

- Como acontecia com você?

- Isso mesmo. - Gina olhou para a água. Às vezes era difícil lembrar a outra pessoa que ela fora. - Era o que faziam para me ver. Eu sempre quis deixar as pessoas felizes, Nessa.

- Quando a repórter veio, disse que sentiam saudade de você.

- Repórter? - Fora há dois ou três anos. Não, há mais tempo. Talvez quatro anos. Era estranho como o tempo se tornava indistinto. Abdu Greg concordara com a entrevista para silenciar qualquer rumor sobre o casamento. Ela não esperava que a menina lembrasse. Afinal, Nessa não devia ter mais do que quatro ou cinco anos na ocasião. - O que você achou dela?

- Falava de uma maneira esquisita, às vezes muito depressa. Os cabelos eram muito curtos, como os de um menino, da cor da palha. Ela ficou zangada porque só a deixaram bater algumas fotos e depois tiraram a câmera.

Gina sentou-se num banco de mármore. Vanessa continuou a jogar pedrinhas na água.

- Ela disse também que você era a mulher mais linda e mais invejada do mundo. Perguntou se usava um véu.

- Você não esquece nada, não é?

Gina também lembrava. Inventara uma história sobre o calor e a poeira, o uso do véu para proteger a pele.

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Meninaaaas (o), boom andei sumida, mas nem no blog eu estava mais entrando, maaas já estou de volta ;).

Obrigada pelos comentarios, e bem vinda Sophie e Gui ;D

Anônimo: hm, tudo bem, não paro mais ;), obrigada.

Taina: hm, acho q o blog deve está com alguns problemas, depois dou uma olhada. Bom vai demorar um pouquinho sim, mas vou dar um jeito de fazer isso acontecer loogo ;DD

Guilherme: eu não sumi, vc q não entra mais no msn, ve se volta a entrar. To com saudades de te encher o saco UHASUHUSHUHAS. Isso nao foi engraçado u_u.

Sophie: Bem vinda! Falta um pouquinho, mas darei um jeito pra chegar logo. Tudo bem, pode xingar a vontade, tbm xingo muito aqui, e o pai dela é mesmo um ordinário. AAh e ameei seu nome, meeeninaaa q nome perfeito, saaabia q se eu chegar a ter uma filha quero colocar Sophie *-* UHUHSAUHASUH, blz esqueece isso, tive um surto aqui UHSAUHASHUSA.  

Bom, vou postar mais 2 partes, pq amanha é aniversário do ZAAAAAAC  *---*,awwwn meu bebê ta crescendo *O*, e eu nao sei se amanha vou entrar no blog, vou fazer de TUDO pra entrar, mas não garanto nada. Mas se amanha eu entrar vou postar umas 4 partes *-* 

beeeijos ;*

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Capitulo 4 – Parte 3

Só que não podia partir. Gina fechou os olhos, tentando blo­quear o som dos tambores. Para deixar Jaquir, uma mulher precisa­va de autorização por escrito de um homem de sua família. Abdu Greg nunca lhe daria essa permissão, pois continuava a desejá-la, por mais que a odiasse.

Gina já lhe suplicara que ele a deixasse ir embora, mas Abdu Greg recusara. A fuga exigiria milhares de dólares, e um risco que ela estava quase disposta a assumir. Mas nunca deixaria Jaquir sem Vanessa. E não havia suborno bastante grande para tentar alguém a fornecer uma passagem ilegal para a filha do rei. 

Gina também tinha medo. Medo do que ele poderia fazer com Vanessa. Ele a tomaria da mãe, pensou Gina. Não haveria nada que pudesse impedi-lo, nenhum tribunal para o qual apelar senão seu próprio tribunal, nenhuma polícia para recorrer senão sua própria polícia. Ela nunca arriscaria Vanessa. 

Mais de uma vez, pensara em suicídio. A suprema fuga. Pen­sava a respeito como antes pensava no ato de amor, uma coisa a ser desejada, apreciada, prolongada. Às vezes, nas tardes quentes e in­termináveis, olhava para o vidro de pílulas e especulava qual seria a sensação de tomar tudo de uma só vez, resvalando depois por com­pleto para o nebuloso mundo dos sonhos. Algo glorioso. 

Chegara a ponto de despejar todas as pílulas na mão, contando-as e acari­ciando-as.
Mas havia Vanessa. Sempre Vanessa.

Por isso, ficaria. Drogava-se e continuaria drogando-se até que a realidade se tornasse suportável. Mas daria alguma coisa sua para a filha.

- Quero o sol - disse Gina, abruptamente. - Vamos sair para o jardim.

Vanessa queria permanecer onde estava, embalada pelas fra­grâncias e sons. Mas levantou-se, obediente, e saiu com a mãe.

O calor seco envolveu-as. Como sempre, doía nos olhos de Gina, fazendo-a ansiar por uma brisa do Pacífico. Já tivera uma casa em Malibu, onde adorava se sentar na varanda grande e espa­çosa e contemplar as ondas no mar azul. 

Aqui havia flores, viçosas, exóticas, exalando um perfume in­tenso. Os muros eram altos, para evitar que uma mulher entrasse ali e tentasse qualquer homem de passagem. O Islã era assim. Uma mulher era uma criatura sexual fraca, sem força ou inteligência para guardar sua virtude. Os homens guardavam-na por ela.

O ar no oásis do jardim vibrava com o canto dos passarinhos. Na primeira vez em que vira aquele jardim, com sua exuberância de flores e perfumes inebriantes, Gina pensara que saíra direto de um filme. Ao redor, as areias do deserto se movimentavam, mas ali havia jasmins, oleandros, hibiscos. Laranjeiras e limoeiros em mi­niatura vicejavam. Ela sabia que os frutos, como os olhos de seu marido, eram amargos.

De uma maneira irresistível, ela foi atraída para o chafariz. Fora o presente que Abdu Greg, lhe dera quando a trouxera para o país, como sua rainha. Um símbolo do fluxo constante de seu amor. O amor há muito que secara, mas o chafariz continuava jorrando.

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Gente, vocês estão gostando da história? 
Por favor me respondam, pq vcs q são blogueiras sabem q não é nada legal, vir aqui, dar o máximo de vc e no final vc receber apenas 1 comentario, é sério, isso nao é legal.
Então por favor, eu sei q nao sou obrigada a postar aqui e vcs tbm não são obrigados a comentar, mas são os comentarios q nos motivam a querer continuar e seguir em frente.
Esses dias eu estava pensando e resolvi q eu vou ter q parar com o blog, (querendo ou não) mas eu nao quero fazer isso agora, pq eu já adaptei vários capitulos dessa história e comecei a adaptar outra, pra mais na frente eu começar a postar, e tbm pq quando eu fiz esse blog eu fiz um compromisso com vcs, então por favor, se vc está lendo deixe um comentario nem q seja pra dar um "oi" ou algo do tipo ;).

Obrigada. 


sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Capitulo 4 – Parte 2

Gina passou a tomar uma pílula a cada manhã. Escapava agora para seus sonhos durante todo o tempo, dormindo ou acordada.

No harém, com a cabeça aninhada em conforto no colo da mãe, os olhos contraídos contra a fumaça do incenso, Vanessa observava as primas dançarem. A tarde longa e quente estendia-se pela frente. Pensara em sair para fazer compras, talvez adquirir uma seda nova ou uma pulseira de ouro, como a que Duja Ashley lhe mostrara no dia anterior. Mas a mãe parecia apática demais pela manhã.

Fariam compras no dia seguinte. Hoje, os ventiladores agitavam o ar impregnado de incenso, enquanto os tambores ressoavam num ritmo lento. Latifa levara para o harém, às escondidas, um catálogo da Frederick's, de Hollywood. As mulheres examinavam as ofertas e riam. Como sempre, a conversa era sobre sexo. Vanessa estava bastante acostumada às palavras francas e descrições excitadas para se sentir interessada. Gostava de observar a dança, os movimentos longos e sinuosos, o fluxo dos cabelos escuros, as voltas dos corpos. 

Vanessa olhou para Meri, a terceira esposa do pai, com a bar­riga estufada, contente e presunçosa, sentada ali perto, conversando sobre o parto. Leiha, o rosto contraído enquanto amamentava a filha mais nova, lançava olhares furtivos para Meri. Fahid, um menino corpulento, de cinco anos, aproximou-se da mãe, clamando por atenção. Sem a menor hesitação, Leiha largou a filha. Seu sorri­so era de triunfo quando levou o menino ao seio.

- É de admirar que eles cresçam para abusar de nós - murmurou Gina.

- O que disse, mamãe?

- Não foi nada.

Distraída, ela acariciou os cabelos da filha. A batida dos tambo­res vibrava em sua cabeça, monótona, inexorável, como os dias pas­sados no harém.

- Na América, todos os bebês são amados, meninos e meni­nas. E não se espera que as mulheres passem a vida tendo filhos.

- Como uma tribo permanece forte?

Gina suspirou. Havia dias em que não pensava mais com cla­reza. Tinha de culpar as pílulas por isso ... e também agradecer. O último suprimento lhe custara um anel de esmeralda, mas ganhara como bonificação uma garrafa de meio litro de vodca russa. Consu­mia da maneira mais comedida, tomando apenas um copo pequeno depois de cada vez que Abdu Greg aparecia em seu quarto.

Não lutava mais contra ele, não se importava mais; suportava ao pensar no conforto que sentiria ao tomar a vodca assim que ele se retirasse.

Podia ir embora. Se ao menos tivesse coragem, podia pegar Vanessa e fugir, de volta ao mundo real, onde as mulheres não eram obrigadas a cobrir o corpo em vergonha e se submeter aos caprichos mais cruéis dos homens. Podia voltar para os Estados Unidos, onde era amada, onde as pessoas lotavam os cinemas para assisti-la. Ainda podia representar. Não era o que fazia todos os dias? Nos Estados Unidos, poderia proporcionar uma boa vida a Vanessa.