Mas a mãe não podia mais ter crianças; e se havia tanto prazer no
ato, por que ela chorava e suplicava ao marido que a deixasse em paz?
Uma mulher deveria sempre acolher o marido no leito conjugal,
pensou Vanessa, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. Devia
oferecer qualquer coisa que ele desejasse. Devia se regozijar por ser
desejada, por ser o instrumento para gerar crianças.
Ela ouviu a palavra prostituta. Não a conhecia, mas a palavra soou
horrível nos lábios do pai, e Vanessa nunca mais a esqueceria.
- Como pode me chamar assim? - A voz de Gina tremia com os
soluços, enquanto tentava se desvencilhar. Houvera um tempo em que encontrava uma profunda satisfação na sensação daqueles braços em torno de seu corpo, em que se deliciava com a maneira como a pele brilhava ao luar. Agora, sentia apenas medo. - Nunca estive com outro homem. Apenas com você. E foi você quem tomou outra esposa, mesmo depois que tivemos uma criança.
- Você não me deu nada. – Abdu Greg enrolou os cabelos da mulher em torno de sua mão, fascinado, mas ao mesmo tempo detestando sua escuridão. - Uma menina. Menos do que nada. Basta vê-la para sentir minha desgraça!
Gina golpeou-o nesse momento, com força suficiente para fazer a
cabeça do marido recuar. Só que não teria para onde fugir, mesmo que fosse mais rápida. O dorso da mão do marido acertou em seu rosto, deixando-a atordoada. Impelido pelo desejo e fúria, Abdu Greg rasgou camisola dela.
Ela era como uma deusa, a fantasia de cada homem. Os seios
opulentos vibravam com o terror que fazia seu coração disparar. Ao luar, a pele alva brilhava, já exibindo as sombras das equimoses causadas por suas mãos. Os quadris eram arredondados. Quando a paixão a dominava, podiam se movimentar com a rapidez de um raio, acompanhando cada arremetida do homem. Uma falta de vergonha. O desejo era como uma dor que o afligia, como as garras de um demônio que o dilaceravam. Um lampião caiu da mesa, enquanto lutavam, os cacos de vidro espalhando-se pelo chão.
Paralisada pelo horror, Vanessa observou quando ele comprimiu com
os dedos os seios brancos e cheios de Gina. A mãe ainda suplicava,
ainda se debatia. Um homem tinha o direito de bater na esposa. Ela não podia recusá-lo no leito conjugal. Era assim que tinha de ser. E, no entanto... Vanessa comprimiu as mãos contra os ouvidos, a fim de
bloquear os gritos da mãe, enquanto Abdu Greg erguia-se por cima dela e mergulhava para seu corpo, com extrema violência, varias vezes.
O rosto molhado por suas próprias lágrimas, Vanessa rastejou para
baixo da cama. As mãos continuaram a apertar os ouvidos até doerem, mas mesmo assim podia ouvir os grunhidos do pai, o choro desesperado da mãe. Por cima dela, a cama tremia. Vanessa enroscou-se numa bola, tentando se fazer pequena, tão pequena que nem ouviria, que nem existiria.
Nunca ouvira palavra estupro, mas depois daquela noite nunca mais
precisaria que alguém definisse o que era.
- Está muito quieta, Nessa.
Gina escovava os cabelos da filha, que desciam até a cintura, em
movimentos longos e lentos. Nesa... Abdu Greg desdenhava o apelido e só tolerava o Vanessa mais formal porque a primogênita era uma mulher de sangue misto. Mesmo assim, por orgulho muçulmano, determinara que a filha recebesse um nome árabe apropriado. Por isso, nos documentos oficiais, "Vanessa" aparecia como Ad Riyahd Na, seguido por um punhado de nomes de família de Abdu Greg. Gina repetiu o apelido agora e indagou:
- Não gosta de seus presentes?
- Gosto muito.
Vanessa usava o vestido novo, só que não mais a agradava. No
espelho, podia ver o rosto da mãe, por trás do seu. Gina tivera o maior
cuidado em encobrir as equimoses com maquilagem, mas Vanessa ainda
podia perceber a pele mais escura.
- Você está linda.
Gina virou-a para abraçá-la. Em qualquer outro dia, Vanessa
poderia não perceber a força com que a mãe a apertava, poderia não
reconhecer o tom de desespero em sua voz.
- Minha pequena princesa... - acrescentou Gina. - Eu a amo
demais, Nessa. Mais do que qualquer outra coisa no mundo.
Ela recendia a flores, como as que haviam no jardim lá fora. Vanessa
aspirou fundo o perfume da mãe, enquanto comprimia o rosto contra seus seios. Beijou-os, lembrando como o pai os tratara brutalmente na noite anterior.
- Você não vai embora? Não vai me deixar?
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