sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Capitulo 4 – Parte 2

Gina passou a tomar uma pílula a cada manhã. Escapava agora para seus sonhos durante todo o tempo, dormindo ou acordada.

No harém, com a cabeça aninhada em conforto no colo da mãe, os olhos contraídos contra a fumaça do incenso, Vanessa observava as primas dançarem. A tarde longa e quente estendia-se pela frente. Pensara em sair para fazer compras, talvez adquirir uma seda nova ou uma pulseira de ouro, como a que Duja Ashley lhe mostrara no dia anterior. Mas a mãe parecia apática demais pela manhã.

Fariam compras no dia seguinte. Hoje, os ventiladores agitavam o ar impregnado de incenso, enquanto os tambores ressoavam num ritmo lento. Latifa levara para o harém, às escondidas, um catálogo da Frederick's, de Hollywood. As mulheres examinavam as ofertas e riam. Como sempre, a conversa era sobre sexo. Vanessa estava bastante acostumada às palavras francas e descrições excitadas para se sentir interessada. Gostava de observar a dança, os movimentos longos e sinuosos, o fluxo dos cabelos escuros, as voltas dos corpos. 

Vanessa olhou para Meri, a terceira esposa do pai, com a bar­riga estufada, contente e presunçosa, sentada ali perto, conversando sobre o parto. Leiha, o rosto contraído enquanto amamentava a filha mais nova, lançava olhares furtivos para Meri. Fahid, um menino corpulento, de cinco anos, aproximou-se da mãe, clamando por atenção. Sem a menor hesitação, Leiha largou a filha. Seu sorri­so era de triunfo quando levou o menino ao seio.

- É de admirar que eles cresçam para abusar de nós - murmurou Gina.

- O que disse, mamãe?

- Não foi nada.

Distraída, ela acariciou os cabelos da filha. A batida dos tambo­res vibrava em sua cabeça, monótona, inexorável, como os dias pas­sados no harém.

- Na América, todos os bebês são amados, meninos e meni­nas. E não se espera que as mulheres passem a vida tendo filhos.

- Como uma tribo permanece forte?

Gina suspirou. Havia dias em que não pensava mais com cla­reza. Tinha de culpar as pílulas por isso ... e também agradecer. O último suprimento lhe custara um anel de esmeralda, mas ganhara como bonificação uma garrafa de meio litro de vodca russa. Consu­mia da maneira mais comedida, tomando apenas um copo pequeno depois de cada vez que Abdu Greg aparecia em seu quarto.

Não lutava mais contra ele, não se importava mais; suportava ao pensar no conforto que sentiria ao tomar a vodca assim que ele se retirasse.

Podia ir embora. Se ao menos tivesse coragem, podia pegar Vanessa e fugir, de volta ao mundo real, onde as mulheres não eram obrigadas a cobrir o corpo em vergonha e se submeter aos caprichos mais cruéis dos homens. Podia voltar para os Estados Unidos, onde era amada, onde as pessoas lotavam os cinemas para assisti-la. Ainda podia representar. Não era o que fazia todos os dias? Nos Estados Unidos, poderia proporcionar uma boa vida a Vanessa. 


Um comentário:

Thaís de Souza disse...

Nem preciso dizer que esta lindo, cada parte que você posta, só me deixa mais anciosa para o encontro de Zanessa .. *-*
Então posta rapido amiga, não demora.
Beiiijos ;**